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Festa da Padroeira

Aos pés da Senhora do Carmo

Festa da Padroeira

1. Segundo uma fábula, «conta-se que uma vez um homem de Guimarães estava a ser perseguido por um grupo de ladrões, que lhe queriam roubar e fazer muito mal. Não tendo por onde escapar, o homem, ao passar junto da entrada de uma gruta no monte da Penha, decidiu entrar e esconder-se lá dentro.
Uma vez lá dentro, o homem ajoelhou-se e rezou desesperado a Deus, dizendo: “Senhor, tu sabes que eu tenho sido um bom cristão. Se tu és realmente o Deus todo-poderoso como aprendi na catequese, nesta hora de aflição, envia os teus anjos do céu ou faz alguma coisa para que a entrada desta gruta se feche e este grupo de ladrões não me roube nem me faça mal.”
Logo que acabou de rezar, eis que à entrada da gruta apareceu uma aranha que começou a fazer a sua teia. Ao ver aquilo, o homem angustiado, rezou de novo dizendo: “Senhor, pedi que enviasses os teus anjos e tu enviaste uma pequena aranha inofensiva. Estou a ver que de nada valeu a pena ser cristão estes anos todos, de nada valeu a pena ter ido 10 anos à catequese, frequentar a eucaristia todos os domingos, participar nas atividades da paróquia, até ajudar a pegar no andor no dia da festa do padroeiro da paróquia... pois na hora em que mais preciso de ti, Tu não me ajudas e ainda gozas comigo ao enviar esta pequena aranha inofensiva.”
Passados uns instantes, o homem ouve o barulho do grupo a aproximar-se da gruta. Complemente a tremer e já a pensar no pior que lhe iria acontecer, eis que ouve a voz de alguém do grupo a dizer: “Meus amigos, sigamos em frente! Ele certamente que não está aqui dentro, pois a entrada está cheia de teias de aranha!”».


2. É certo que hoje em dia o nosso tempo vive-se a uma velocidade estonteante, pois a sociedade bloqueou a nossa liberdade sob os dogmas da produtividade e da eficácia. Para ganhar uns minutos, pois o mundo diz que “tempo é dinheiro”,   somos capazes de mudar de fila de trânsito inúmeras vezes e passar semáforos vermelhos, somos capazes de almoçar de pé e a correr sem olharmos para quem está ao nosso lado, somos capazes de arriscar a integridade da nossa saúde para obter resultados sobre-humanos, e tudo isto tem como consequência a pressão, cansaço, stress e falta de paciência na nossa vida. 
E quem é que vai pagar essa fatura? São os familiares e amigos mais próximos que vão levar com os nossos nervos, má-disposição e alteração de humor.
Por isso, Jesus pede-nos que tenhamos muito cuidado no modo como gerimos a nossa vida. A partir da figura de Maria, recorda-nos que, no meio desta sociedade que gira em alta rotação, também precisamos de um tempo próprio para, a cada semana, estarmos com a nossa família, com os nossos amigos, com Deus e com as nossas prioridades.

3. Neste sentido, queremos celebrar a Senhora do Carmo. Falar de Nossa Senhora do Carmo, implica-nos em primeiro lugar, falar do Monte do Carmelo, um monte muito importante não só na história do Antigo Testamento,  que em hebraico significa a “vinha do Senhor”, o local onde o Senhor se manifesta. 
Mas também na evangelização da Europa durante a idade média, sobretudo quando a ordem religiosa dos carmelitas passava por grandes dificuldades, e em 1251, mediante as preces de súplica de Simão Stock, Nossa Senhora apareceu-lhe e garantiu-lhe que quem usasse o escapulário que ela indicou, isto é, um traje de cor castanha, acontecesse o que acontecesse, Deus o protegeria e teria “reservado um lugar no céu para essa pessoa”.
Depois desse episódio, os carmelitas ficaram conhecidos como uma das maiores ordens religiosas da Igreja Católica, da qual fizeram parte grandes santos da história da espiritualidade, como: Santa Teresa D’Ávila, Santa Terezinha do Menino Jesus e São João da Cruz.

4. Como diz o provérbio popular, “quem tem uma mãe tem tudo na vida”, hoje queremos então evocar a proteção de Nossa Senhora do Carmo junto de Deus, ela que é a nossa mãe, para que Deus: ajude as nossas famílias a sair maldita crise económica; defenda os mais fracos e desprotegidos; proteja os nossos queridos emigrantes; dê saúde aos nossos familiares doentes; ampare os nossos idosos, muitas vezes esquecidos no lar e no hospital; ajude os nossos desempregados a encontrar emprego; anime os nossos jovens estudantes; auxilie os pais que sentem dificuldades para educar os seus filhos; dê o descanso eterno àquele familiar e amigo que faleceu; suscite mais vocações sacerdotais e religiosas; e que fortaleça as nossas mães, de um modo especial as mães valentes e sonhadoras, as mães jovens e idosas, as mães lutadoras e sofredoras, as mães cansadas e inconformadas, e as mães que não são amadas, compreendidas, respeitadas e acarinhadas.
Hoje de um modo particular, temos entre nós o Tiago André, de quem nos recordamos da sua emocionante história, quando há 17 anos atrás ele (ainda bebé) foi raptado na maternidade do Hospital Senhora da Oliveira e deixado dias mais tarde junto do altar deste Santuário: aos pés de Maria. O que demonstra que Maria não é uma figura do passado ou um ser distante, mas que ainda hoje intercede pelos seus filhos, pedindo a Deus os milagres mais impossíveis à racionalidade humana, como escutávamos por exemplo na primeira leitura.

5. Para terminar, na semana em que celebramos os 50 anos em que pela primeira vez na história o homem conseguiu chegar à Lua, Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar a lua, deixou-nos em herança a seguinte frase famosa: “Foi um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para a humanidade”.
Por isso, e numa altura em que decorre o início da época de futebol, o jogo da nossa salvação, tal como num jogo de futebol, ganha-se precisamente nestes pequenos passos e pequenos pormenores. Isto é: nos pequenos perdões, nos pequenos sorrisos, nos pequenos gestos, nos pequenos elogios e nas pequenas palavras, que podem marcar a nossa diferença cristã no meio deste mundo. Por outras palavras, agir e comunicar aos outros a nossa esperança.
Deste modo, peçamos a Deus a mesma sabedoria de Maria, a fim de que os nossos pequenos passos diários sejam, de verdade, grandes passos para a construção de uma nova humanidade.
Por último: por maior que seja a adversidade que estejais a atravessar nas vossas vidas, não vos esqueçais que tendes aqui a Senhora do Carmo a interceder por vós, nem que seja para pedir a Deus que envie uma pequena e inofensiva aranha para afastar de nós o maior dos perigos!

Excertos da Homilia do Sr. Pe. José Miguel Cardoso - 21 de julho de 2019