Teleférico da Penha: O último sonho coletivo vimaranense concretizado

O Teleférico da Penha, em Guimarães, completa este ano 30 anos. Fez a sua viagem inaugural no dia 4 de março de 1995, embora a sua inauguração oficial tenha ocorrido em 24 de junho do mesmo ano.
O teleférico constitui um meio de estreitamento e aproximação da serra à cidade. É, também, uma fórmula física que aplainou o que antes era vertical. O íngreme, difícil e doloroso transformou-se em suave, agradável e deleitoso.
Mas tal não resultou do nada. Não surgiu espontaneamente nem se fez porque uma vontade externa autorizou. Também não deixou de ser feito, ainda que, apesar da vontade geral fosse o de ver o teleférico realizado, todas as forças autodenominadas de “racionais” se mostrassem contrárias à sua concretização.
Só aparentemente existe contradição no facto do teleférico existir, apesar da tal “razão” o não recomendar. O teleférico da Penha demonstrou que é possível vencer os discursos do impossível, do difícil, do irrealizável, do utópico. E para tal ocorrer, basta ter coragem, imaginação, ousadia e capacidade de resolver problemas que toda a arte acarreta.
Ter um teleférico a cirandar entre a centro urbano e a montanha nada dirá de novo a quem tenha menos de trinta anos. Mas podem esses mesmos questionar os mais velhos sobre o que significa ter esse meio de transporte em Guimarães, concebido pelo querer vimaranense. Saberão então que a existência do teleférico é o resultado de uma longa malha mental que, por volta de 1884, pensou numa ligação entre a Penha e o centro urbano de Guimarães.
Ora, ao comemorar, neste segundo trimestre de 2025, 30 anos de existência, o teleférico comemora também 141 anos da sua primeira referência pública no jornal “Aurora da Penha”, edição única concebida pelo muito buliçoso Albano Belino. Essa longa linha temporal sustentada numa ideia passada de geração em geração, até à sua realização, mostra que é possível, quiçá desejável, ambicionar o aparentemente impossível.
Sem a imaginação sonhadora, não haveria teleférico em Guimarães. A sua existência mostra tratar-se do último sonho da malha mental coletiva vimaranense.
A sua existência mostra que é da imaginação do impossível que surgem os feitos extraordinários.
E é, também, pela vontade férrea dos que ousam sonhar, que se erguem os marcos de uma comunidade que recusa os limites da realidade e se atreve a moldá-la com a sua própria visão.
Oxalá o futuro nos traga mais sonhos e mais sonhadores.